11 janeiro 2014

Querido Diário









Tenho que ir pelo menos duas vezes pra São Paulo obrigatoriamente: pra pegar meus remédios na Farmácia de Alto Custo - onde retiro remédios que fariam um rombo no meu orçamento gratuitamente - e para fazer meu tratamento - combo de exames e consulta pós transplante.
E tento fazer umas coisas nesse interim, como ir ao cinema, fazer umas compras, tomar café com amigos.
Às vezes faço só o que preciso e me dou apenas um tempinho em um café super fofo, perto do hospital. E só.
Em dezembro peguei um metrô tão lotado que só entrei porque um cara puxou minha mão e me arrastou pra dentro, em um passo de tango. Minha bolsa ficou meio presa na porta e foi salva por um grupo que a empurrou pra dentro, onde eu estava emparedada.
Mas isso acaba acontecendo quando tenho que chegar super cedo, para os exames. Dia de pegar remédios é mais fácil, chego em horários mais tranquilos, tal.
Ontem fui novamente acompanhada de minha amiga Andréia, que já tinha ido outras vezes comigo. Mas dessa vez não permiti que ela ficasse sentada comigo, esperando. Porque o lugar atende muita gente e demora mesmo, não tem jeito. Combinamos então de nos encontrarmos  em um brechó super estiloso, que merece um post exclusivo, o Capricho à Toa. Como o lugar é super agradável e tem um Café bem legal, ela faria outras coisas e a nos reuniríamos  mais tarde.
Eu fiquei lá, esperando ser atendida e lendo um livro escrito exatamente por essa amiga:  essas férias estão interessantes, estou com três livros de três amigos pra ler, o que acho um luoooxo.








Fiquei lá e bati papo com outros transplantados. Todos entraram com processo e se aposentaram após o transplante. Olharam pra mim com uma cara engraçada quando eu disse que não ia me aposentar por conta desse processo, primeiro porque estava bem e depois porque gostava do meu trabalho.
Ao ouvirem que eu era professora, suspiraram - as pessoas sempre suspiram de um jeito engraçado quando eu digo que sou professora - e começaram a falar em falsete, "explicando" pra mim como minha profissão era cansativa e que as "crianças de hoje em dia"...
Então. Em qualquer tempo ou lugar, se ouço a frase fatídica "as crianças de hoje em dia..." sei que vou ouvir baboseira, sei que vou ouvir clichês marcados por um saudosismo irreal, sei que vai ser chato.
Hora de abrir o livro e me livrar do papo. E foi o que fiz.
Um tempo depois, fiquei rascunhando posts que devo colocar aqui, em outro momento. Estou lá, felizinha com minha caneta, quando o tal cara me interrompe:
 - Desculpa te falar, mas você trabalha muito. Olha, está ai trabalhando agora.
- Não estou trabalhando. Gosto de ler. Gosto de escrever.
Como se eu não tivesse dito absolutamente nada, o tal chato continuou falando sobre trabalhar  e mais uns blábláblás que me chocaram porque ele dizia algo como " Até que trabalhar  é bom, pra matar o tempo." Achei a frase deprimente, mas voltei para o livro com um meio sorriso de "tchau, pelamor, cale-se". Enfim,
Fui me encontrar com Andréia, comemos algo gostoso no Café, babamos em umas bolsas lindas e compramos umas coisas. Decidimos voltar e fizemos um trajeto diferente, sugerido por ela, onde eu peguei a linha amarela, que nunca pego e acho linda, tranquilas e sem virar sardinha. Agora mudarei definitivamente esse trajeto.
Contei sobre o chato e chegamos a mesma conclusão: deve ser realmente triste achar que se tem que matar o tempo, achar que ler é uma forma de trabalho forçado. Deve ser triste.
O fato é que além de poder ler, poder conversar diretamente com o autor e poder perguntar muito e toda hora, há que o tal autor é seu amigo, é muito bom. Esses meus amigos que me aguardem.



04 janeiro 2014

Fernanda Abreu, sangue bom

E o caso é que amigos me chamaram pra ir no show da Fernanda Abreu e eu, seguindo minhas determinações de ano novo...aceitei correndo.
Primeiro chegamos no Taquaral, um parque gostoso de Campinas, achando super, super fofas as gotinhas que caiam em cima da gente, refrescando  nossas vidas. Mas as gotinhas fofas se transformaram rapidamente em uma chuva forte. Quente, até agradável, mas forte, deixando a gente feito pintos molhados.
Em um segundo apareceram fulanos vendendo capas de chuva, Andréia, like a lady, estava de chapéu e escapou ilesa da chuva, encolhida sob um guarda chuva. Eu, Henrique e Alicia continuamos de forma nonsense, conversando embaixo da chuva.
Alicia achou melhor ir para debaixo das árvores. Fiquei com medo, alguma tia no meu passado havia dito que atrai raios, mas Andreia afirmou se tratar apenas de "fofoca", e vamos que vamos pra debaixo das árvores.
Nesse papo debaixo da água, Henrique contava que tinha nadado em alto mar,
- Não iria nunca, nunca. Alto mar. Tá maluco, que perigo.
- Vivien, é nadar paralelo em relação a praia...não é indo pra África,
Depois de rir, ainda tive que ouvir Alicia tentando me convencer que nadar em mar aberto é muito, mas é muito seguro.
- É , Vivien, dá pra nadar tranquilo. Nem tem tubarão. Mas só dá pra nadar sem beber, ah, é....porque se beber, ah, aí morre.
Sem beber e sem nadar em mar aberto, fiquei me sentindo bem segura.
De papo em papo a chuva passou e o show valeu cada minuto. Fernanda Abreu linda, super cênica no palco, dançando, cantando com aquela ginga de quem tem os dois pés na black music,
Cantei, dancei, adorei a abertura com Jorge da Capadócia, a escolha das músicas, tudo.
Claro que ela deve ter achado meio chatinhos alguns momentos, ao chamar um povo pra dançar com ela, subiram crianças e umas pessoas sem noção e sem molejo nenhum, que fizeram o funk parecer Trem da Alegria. Mas, enfim.

03 janeiro 2014

Mocinhos e bandidos

Não sei se vocês vão concordar, mas o fato é que amamos odiar os vilões de novela. Falo com vocês, amigos noveleiros, vocês conhecem o meu coração.
Mas eu realmente não acho que o mistério seja muito difícil de desvendar. Por "algum motivo obscuro", como diz uma amiga, os roteiristas acham por bem caprichar até as nuvens nos textos dos vilões. E os fazem com maestria. Elaboram vilões irônicos, engraçados, charmosos.
Criam escadas malévolas para Nazaré,  enganam mocinhas virgens com aquele personagem do Antônio Fagundes, fazem as cenas mais loucamente deliciosas do mundo com a fantástica Carminha.
Mas o que me incomoda, o que é a ervilha no meu colchão é o fato de manterem uma estranha tradição de não emplacarem seus heróis.
 Encapam os "bonzinhos" em uma eterna fala manda, olhar ao longe e texto sem um tico que seja de humor. Eu sei que existem vários protagonistas bacanas, mas vamos e venhamos...quando eles começam a emplacar, começam a fazer "maldades" ou algo do gênero. Eu vou abrir o sindicato dos "Noveleiros que querem Protagonistas Fortes e Engraçados". Nosso lema será : "Bonzinho sim, sem ironia jamais!"
 
 
Amiguinhos, a gente gosta de humor, a gente gosta de rir, a gente não quer só comida, a gente quer comida e felicidade.

21 dezembro 2013

O peso dos filmes piegas

  Vocês vão me dizer que o filme é piegas de dar dó e estarão certos. Quem já cambaleou até os quarenta e tantos anos provavelmente encarou "O Pássaro Azul" em uma daqueles dias de sessão da tarde, quando estava de volta da escola e sua mãe estava gritando para você tirar o uniforme a-g-o-r-a.
E se você disse aquele "peraííí´" irritante que todos dissemos ( e fomos fadados a ouvir mais tarde), e continuou vegetando diante a tv, você se deparou com a historinha das crianças que saem em uma jornada surreal pelo passado, futuro e outras paragens, procurando a tal felicidade, o tal pássaro.
E se você consegiu enrolar sua mãe o suficiente para terminar o filme, sem tirar o uniforme da escola e ainda assaltar a geladeira, você se lembra que o tal pássaro estava na casa deles . E sempre esteve.
Nos momentos em que estou desanimada e com a terrível sensação de que em alguns momentos da minha vida eu consigo vislumbrar objetivos - tal qual uma menina com o rosto colado em uma vitrine de confeitaria - mas não consigo atingi-lo, quando estou com essa sensação...busco um socorro interior no tal filminho de sessão da tarde.
Porque acho que o tal passarinho está aqui, está debaixo do tapete, enrolado na minha cachorra, sobre um prato na cozinha, me um degrau da escada. Está aqui.
Quando mais fortemente eu me convencer disso, de que a felicidade está aqui, mais resistente aos tropeços ficarei.

19 dezembro 2013

As decisões que moram nas madrugadas

Estava aqui fazendo as contas que sempre me acometem nos finais de ano. Os erros, acertos, as insistências que eu deveria ter deixado pra lá, os "deixa pra lá " em que eu deveria ter insistido mais. Fico aqui com minhas contas e refletindo sobre o que não dá mais pra fazer, o que dá pra fazer, o que depende de mim, o que depende de outras pessoas.
Escrever nesse blog depende de mim e já foi uma das coisas que mais gostei de fazer. Algo que me acompanhava em termos criativos e terapêuticos, tornando certos momentos mais fáceis e me aproximando de pessoas que valiam a pena.
Porque...se há um ganho real com essa blogosfera, esse ganho foi o fato de eu ter trazido para minha vida pessoas incríveis que sairam das letras para me fazerem companhia em uma conversa, umas risadas e aquelas sacadas incríveis que a gente só tem quando dialoga.
Ensaiei voltar a escrever. Agora eu me comprometo. Não que isso realmeeente faça uma grande diferença para esse universo de trilhões de blogs sobre trilhões de assuntos.
Mas faz diferença pra mim.

Lista de 2014.


1) Voltar a escrever no blog
2) Fazer reeducação alimentar e atividade física ( já embolo em uma decisão só pra dar um jeito nesses quilos que estão aqui à revelia do meu desejo)
3) Estudar inglês seriamente
4) Viajar ( pra longe, pra perto, v-i-a-j-a-r)
5) Fazer uma reeducação financeira e aprender a poupar. ( Estou rindo de mim, gargalhando de mim, mas...antes tarde do que nunca).
6) Continuar essa lista até ela ter muito, muitos itens.;0)


06 julho 2012

Nossa loucura de todos os dias.


Vi esse croqui do Louboutin no site Garotas Estúpidas e imediatamente lembrei da mania ensandecida de pés pequenos que assolou a China durante muitas décadas.
Apesar de reconhecer que o salto alto é uma tortura insana, confesso que cedo ao senso comum e acho bonito. E uso. E gosto. E até aprendi que o tal solado vermelho é leeeaaando.
Mas apesar disso tudo não posso deixar de pensar em quem foi o dono ou dona dessa ideia doida de colocar a gente com essa coisa no pé.
Mas ao olhar esse desennho e ver o pé deformado, torto, estranho, só pude me lembrar disso:

05 julho 2012

A água da Rita me lembrou as minhas águas




A Rita, minha querida Rita, em um post delicado e encantador, falou sobre a chuva . Sobre ela e a chuva, a menina Rita e a chuva.
E eu vi, quase imediatamente, a mim mesma na janela, na primeira vez que olhei a chuva. Olhei tipo olho no olho.
Era uma daquelas chuvas grossas que caem com  pingos gordos e fazem um pequeno cataclisma no chão, na água. O barulho forte e a marca dos pingos. O barulho forte e a marca dos pingos.
E eu fiquei ali na janela. O barulho forte e a marca dos pingos. O barulho forte e a marca dos pingos.
Era em uma época tão distante que eu ainda chupava chupeta. Objeto queridinho que só deixei aos cinco anos, mais ou menos. ( Pedi pra alguém jogar fora e me lembro dela voando. Chorei no meio do voo e pedi outra e não foi daquela vez que me despedi da danada)
Mas o bom da chuva, o bom mesmo, viria anos depois.
Quando eu descobri as delícias do banho de chuva. Em especial vindo da escola, molhando o uniforme e destuindo os cadernos. Melhor do que pegar a chuva era correr  com as amigas e pular nas poças de água com aquela alegria febril que somos capazes de sentir aos dez anos.
A chuva vai sendo recodificada, assim como tudo. Hoje é o barulhinho que me ajuda a dormir ou aquilo que me faz temer dirigir. Mas não tomo banho de chuva, nem olho a marca dos pintos gordos.







O passado mora ao lado



Será que existe uma determinada idade em que a gente simplesmente deixa de se importar? Será que em algum momento a gente se perde daquele jovem que se incomodava e ousava?
Talvez.
Mas em algum canto esse jovem mora, talvez mais contido, menos crédulo e  mais cético. Mas em algum lugar ele está.