30 abril 2008

Ah,não,Maristela....

A minha querida Maristela criou um blog só pra sacanear 1968,vejam só vocês.
E eu estou correndo aqui um minuto,só pra defender o ano das barricadas da França, o início dos anos de chumbo, uma moda deliciosamente chique, o ano que nasci, ora, bolas...
Mas com o rei aqui, defendo o meu ano.
Pois é, meus queridos, continuo uma romântica incorrigível, a despeito do meu discurso atual, falsamente blasé.




Universo feminino

Daniel "decidiu" ser publicitário com dez anos. Desde essa época, há cinco anos, as propagandas são assistidas e discutidas lá em casa. Ele me surpreende com críticas como "essa perdeu o foco" ou essa "está muito poluída visualmente".
Rimos e sacaneamos algumas,tiramos o chapéu para tantas outras.
Eu gosto, em especial, desses dois filmes. O primeiro, de 1987, já faz parte do imaginário de grande parte da população brasileira, sendo citado em diferentes momentos. Assinado pela W/Brasil, obviamente. Delicado e poético, acho que é um dos melhores que já assisti.
O segundo eu não me canso de ver, morro de rir. Não sei de quem é a criação, mas sei que é alguém que saca tudo sobre mulheres.
Vejam.







25 abril 2008

O fim de uma era






Ontem passei no Cambuí e vi que o Caicó não existe mais.O Caicó era o último bar de uma outra era,um período onde os jovens da cidade iam pro "setor",um lugar onde os bares se agrupavam e "todo mundo" ia.Porque em um determinado momento da vida,seus amigos são "todo mundo",são um mundo.
Naquele pedaço,meu bar predileto era o Ilustrada.Era lá que,há vinte anos,eu ia ver a Tati e a Carô cantarem seu delicioso repertório.Era pra lá que eu ia sem combinar,porque sabia que ia encontrar meus amigos.Mas isso era em outro século.Literalmente.O Ilustrada era uma casa antiga,com muita mpb,visitada por qualquer pessoa bacana que viesse na cidade.Virou um estacionamento.Por uma questão de princípios,nunca parei ali.Seria uma heresia.
O Olhar 43 era um outro bar que eu gostava,o Natural eu detestava,só ia quando R.vinha pra Campinas...ele fazia questão de ir naquele criadouro de porra-loucas e eu o acompanhava.Esse bar também fechou.
O Caicó mudou de estilo,ficou sem cara,sem identidade,seu fim foi morrer mesmo.
Mas eu fiquei triste.Tinha visto a reportagem do Bruno falando sobre o outro bar,mas por algum motivo,apesar de ler que era no lugar do Caicó,ainda não tinha sentido a ficha cair.Achei que ele sempre estaria ali,eu acho.
Para muita gente,pode ser apenas um bar que fechou.Pra mim e pra outros...é o fim de uma era.Foi lá que fui papear com Tar e outros amigos professores,contando pra eles como era o bar há anos.Foi lá que minha amiga jogou uma idiota escada abaixo.Foi lá que comecei a namorar meu ex-marido.Era pra lá que eu,Dri,R. e nossos amigos,íamos nas sextas feiras,filosofar sobre a vida,planejar um futuro que parecia tão longínquo.Impossível pensar no Caicó sem pensar nas pessoas importantes pra mim,sejam eles amigos,namorados - mesmo os que deram mancada,mesmo aqueles que nem entraram efetivamente na minha vida.Mas me lembra principalmente aqueles com quem tive longos e intensos relacionamentos.Todos os namorados realmente importantes,foram comigo no Caicó.Se nunca pisou ali comigo,foi um ninguém na minha história.
Ver que não sobrou nenhum bar do setor - apenas o clássico city bar,que eu não vou - ver que todos os lugares onde coisa bacanas aconteceram,me deixou estranha.
Já disse para os amigos que fazer 40 anos está pirando minha cabeça.Realmente gostei de fazer trinta,mas quarenta,hum,sei não.Aquela coisa clássica de fazer um balanço na vida pode ser algo bem estranho a essa altura do campeonato.
Me despedir do setor,me despedir de espaços nessa cidade,fazem parte de um ritual de passagem difícil,como são todos os rituais de passagem.
Não se iludam,não sou saudosista.Sério.Mas acabar com parte da minha história foi demais pra mim.

23 abril 2008

Eu,uma bata e a ausência de dieta














Ontem estava no supermercado,senha na mão,esperando minha vez no açougue.Um dos atendentes me chama,faço o pedido,um outro,bonitinho,franguinho,diz pra ele:
- Eu acho que mulher grávida fica tão bonita...você não acha?
O outro não respondeu,continuou fatiando os bifes.O rapaz insistiu:
- Eu gosto,sempre achei que mulher grávida fica bonita.
Eu ouvi,achei bacana a frase,mesmo porque eu também acho.Sorri pra mim mesma.Ele repetiu a frase, olhando pra mim.
Aí saquei.
Sim,queridos.Era um elogio.
A "grávida" era eu.Tô começando o regime agora.Socorro.

21 abril 2008

Coisas novas













Meus amigos sabem que esse ano que passou não foi moleza.Confuso,cheio de problemas.2008,apesar de ter começado mal,foi salvo a tempo pelo Bia e Karen,que ao me resgatarem na minha casa,salvaram minha entrada nesse novo ano.E as coisas estão melhorando.
Coisas boas tem acontecido e estou animada,muito animada.
No meio dessas coisas,essa dissertação encantada,que ficou esquecida em um canto,volta a ter sentido e volta a ser feita.
Ufa.

14 abril 2008

Entrevista


















Sem tempo pra blogar,deixo uma entrevista para vocês ouvirem.
Juro que minha voz não é nojentinha assim todo dia....
Escutem.

10 abril 2008

A água









Quando eu lavo o quintal,sempre me lembro daquele delicioso romance de Marguerite Duras,O Amante.
Me lembro de como ela descreve sua casa sendo lavada,a alegria não cotidiana que se instalava na mãe,nos empregados,nela,no irmão menor.O minuto em que a água lavava os problemas,de forma ritualística,mágica.
Esse livro foi objeto de uma das (raras) boas adaptações,uma das versões que não me fizeram sair xingando do cinema .Além de ter um toque delicioso: o texto de Marguerite Duras sendo lido para o espectador,que participa de seus pensamentos mais íntimos.Adoro narradores em filmes,me sinto cúmplice deles.
Sempre me lembro disso e lavo feliz o quintal,jogando os problemas fora,lavando todos eles.
Gostaria de fazer isso mais vezes,mas em um planeta sem água,seria irresponsabilidade.
É delicioso,refrescante,divertido.Eu gosto.
Agora,para fazer isso,fico ouvindo um áudio-livro que comprei,o Caçador de Pipas.Tenho o horrível hábito de lavar louça,arrumar a casa,e os demais serviços caseiros, com a tv ligada.Parece que é impossível viver sem barulho.Horrível,eu sei.Me acostumar e explorar o silêncio é um desafio,que ainda não estou pronta para assumir.
Comprei esse áudio-livro e foi uma grande aquisição: fico limpando,lavando,cozinhando e ouvindo a história,como eu gostava de fazer quando era criança.
O Caçador de Pipas se revelou uma bela e triste história,ainda não terminei,uma cena chocante me fez parar de ouvir,até me restabelecer.
Confesso meu preconceito contra os mais vendidos,nunca os compro.Mas dessa vez comprei,pois já que a Clélia indicou,achei que seria uma boa compra.
Sobre o livro,falo no próximo post.

07 abril 2008

Todo mundo conhece uma Zelda







Eu conheço uma Zelda,uma azeda que reclama de tudo.Ninguém tem saco pras Zeldas,certo?
Porque uma Zelda sempre está desanimada, o que nem chega a ser mau humor real,porque isso demanda alguma forma de paixão.Zelda não tem paixões.
Seus olhos baços não se animam,nem tampouco se irritam.Zelda tem desânimo,tem aquela preguiça existencial que faz com que os ombros se curvem.
Talvez a única reação de Zelda seja o deboche.Porque por meio de seus risinhos maus,muxoxos e troca de olhares com as pessoas(que podem vir a ser suas vítimas,também,basta que virem as costas),ela se comunica com o mundo.
Não trabalha,não lê,não se posiciona.Mas sabe o dia-a-dia da vizinha,da sogra,da cunhada,que comenta,baixinho,quase "defendendo-os"...porque talvez ela se considere uma pessoa boa.Não há como saber.
Zelda prefere morar em uma cidade feia,com gente feia e desanimada,porque seu olhar limitado nem percebe onde vive.Zelda não vê nada ao seu redor,seu mundo se reduziu a pequenas intrigas cotidianas,aos velhos laços frouxos com vizinhos que,assim como os servos medievais,parecem estar ligados de forma vitalícia ao lugar onde cresceram,mesmo que ele seja um lugar sem opções,horrível,deprimente.Não há janelas para Zelda,porque seu horizonte termina na pequena área de serviço onde ela se enfia e reclama.
Talvez eu tenha pena de Zelda,ainda não sei.
Porque deve ser duro viver uma vida em preto-e-branco,sem paixões,sem horizontes,se satisfazendo com seus muxoxos e com a inveja da vida alheia.
Toc,toc na madeira,é melhor se manter longe de Zelda.
E vocês,conhecem alguma Zelda?Contem pra mim.


*****No post abaixo,o resultado do "concurso".

05 abril 2008

A gatinha sem nome ( agora,com o resultado)






















Preciso de uma ajudinha de vocês aí.Quem vem sempre,quem vem às vezes,quem comenta,quem prefere ficar quieto,todo mundo.
É o seguinte:Daniel tem cinco gatos pretos.Malcolm X e Chiquinha são a terceira geração de uma gata de rua que adotei.Cresceram,esqueceram que são irmãos e brincando aqui e ali,acabaram sendo pais de uma nova cria...mais três gatos pretos.
Como não conseguimos doar e somos radicalmente contra abandono de animais:existem cinco gatos pretos lindos na minha casa.
Os meninos,filhos de Malcolm,se chamam Mandela e Martim (Luther King,claro),mas a menina ainda não tem nome.
Eu sugeri Josephine( a Backer),mas Daniel não gostou.Pensei em Urura ( Star trek,essas paradas),mas o pai humano deles também não aprovou.Resultado,a coitada da gata virou...gata,e só.
Parece aquele western do John Wayne,onde o cão se chamava cão.Frou sugeriu Toni Morrison,mas ela ia virar Toni só,e não ia dar certo.
Então me ajudem:preciso de um nome interessante de uma mulher negra bacana.
Quem começa?
O ganhador passa a ser o padrinho/madrinha da gata sem nome.

***** Trotta já deu sua sugestão: Billie Holiday,mas Daniel ainda acha que não é esse.Então,continuamos a busca do nome da gata preta.

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Queridos,o nome escolhido foi Tina,portanto,Valter,o homem-que-não-gosta-de-gatos...é o "padrinho" da gata...ahhaah
Valter,Daniel falou pra eu te dizer que você tem que vir no casamento,aniversário,essas coisas.;0)
beijos a todos e obrigada.

04 abril 2008

Circo de horrores ou a festa sobre Isabella
















Não é novidade para ninguém que parte da humanidade tem uma necessidade de conviver com o horror,com a violência,em um êxtase sádico asqueroso.Não foram poucos os que berraram para gladiadores no Coliseu,nem tampouco os que foram assistir aos espetáculos de decapitação do período do terror francês.Muitos outros elementos estão envolvidos nisso,claro,eu sei.Mas uma boa dose de curiosidade mórbida também.
Basta ver onde se formam filas quilométricas quando a Unicamp abre suas portas...o quê? você ainda tem dúvida?Sim,formam-se filas mastrodônticas na anatomia,isso mesmo,pra ver corpos.
Também não é novidade para ninguém que parte da imprensa vive dessa curiosidade,alimentando-a calorosamente.
Mas os fatos recentes,ainda que eu saiba de tudo isso,me chocaram.
Estou falando da menina Isabella,que morreu na queda de seis andares,na cidade de São Paulo.
Eu não sei quem foi,a polícia também não,a investigação ainda está aberta.
Mas parte da imprensa já julgou,já condenou e faz um circo aterrorizante,incitando as pessoas ao ódio.
Ontem eu vi uma emissora que ficou HORAS discutindo esse assunto,ou melhor,concluindo com uma autoridade dada sei lá por quem,que o pai seria o assassino.
Pode ser,não sei.Mas o fato é que a condenação dessa pessoa de forma precipitada pode fazer reviver - como lembrou a Frou ontem - o caso da Escola Base,onde os donos foram acusados e perseguidos pela imprensa por uma suposta agressão sexual dos alunos.
Apesar de provada sua incocência,hoje em dia estão arrasados,sem dinheiro,sem respeito,sem saúde.Sua vida foi para o lixo.
A polícia,querendo mostrar serviço a população,já acusava o pai nas primeiras horas:acharam um fulano dentro de uma situação realmente confusa e parecem querer provar sua competência.
Fiquei pasma,eles deduziram que o corte da rede protetora foi feito com uma tesoura e - pasme,leitor - acharam uma tesoura na casa.Oh!!! algo absolutamente fora do normal,certo? afinal ninguém tem tesoura em casa? você tem??? que horror,pode ter sido você.
Por algum motivo que não entendi,os jornalistas chamam a mãe de "mãe biológica".
OU eu fiquei louca ou não entendo nada:"mãe biológica" não é a forma de tratamento da mãe que apenas pariu enquanto outra criou?
Esse não é o caso,a menina era criada e morava com a mãe.
As mães leitoras daqui da Casa já deixaram recado na escola dos filhos dizendo "olá,aqui é a mãe biológica do fulano"?Ora,pipocas.
Alguém ouviu uma criança falar "pára,pai" e isso virou manchete.Eu estou falando sério.Um vizinho pode localizar com tanta perfeição de onde veio essa frase?
Uma vizinha do prédio da frente viu o casal chegando juntos.Ela usava binóculos?
Um jornalista(!) com cara de "saquei tudo,crianças,me ouçam e aprendam",ficou horas ontem,instigando a população a ver o pai como assassino.
Vários desocupados deixaram seus - aparentemente poucos - afazeres para ficarem do lado de fora da delegacia,fofocando.
Que medo dessa gente.
Nos primeiros momentos,a mãe da menina disse que duvidava de uma suposta culpa do pai,por perceber o carinho e amor com que ele sempre tratou a menina.
Essa mãe ficou três horas e meia trancada com uma delegada,na saída,disse que queria que a "justiça fosse feita".
Uma mãe que acabou de perder a filha de forma brutal,seria alguém perfeitamente influenciável,não seria?
Presos e separados,a madrasta e o pai estão na mira dessa imprensa mórbida,onde poucos dão sinal de lucidez - como fez Alexandre Machado,hoje de manhã,lembrando inclusive,da Escola Base - e outros prometem a população sedenta de sangue:"separados,eles entram em contradição..."
Claro que sim,podem até se acusar,inclusive.Essa técnica já colocou mãe contra filho,avô contra neto.
Torquemada que o diga.