26 maio 2009

Saramandaia


Pra quem se lembra, Saramandaia era uma novela que passava tarde, lá pelas dez horas, eu creio.
Eu não assistia,tinha que acordar cedo pra ir pra escola e minha mãe cortava meu barato.Eu me lembro de cenas, alguns personagens. Já tinha uma queda pro Realismo Fantástico, que eu só viria a conhecer anos mais tarde.
Mas eu achava sedutor aquele universo mágico de um homem que voava, uma mulher que explodia, um fulano que tinha formigas no nariz e outras coisas tão deliciosamente absurdas quanto essa.
Sempre admirei a possibilidade da criação, fico abobada quando vejo novelas ruins, porque sei que existem autores fantásticos e atores/atrizes geniais. Ou seja, só se produz porcaria porque se QUER produzir porcaria.
Há alguns anos eu encontrei um antigo colega de colégio que agora é roteirista na Globo: passamos horas falando de séries e coisas assim, uma delícia.
Mas ele foi categórico - acho até que já comentei isso aqui - a produção de lixo é consciente.Eu sei que isso é chover no molhado, que vocês já sabem...mas não é chocante?
Como eu queria ver Saramandaia hoje, caracoles.






***publicado originalmente em julho de 2007.

24 maio 2009

01 de junho de 1968



Eu adoro fazer aniversário. Já comemorei de diversas formas, em bares, indo pra São Paulo com o então namorado, cozinhando, fazendo festa com dj e show de dança do ventre. Há algum tempo descobri que o lance, pra mim, é comemorar em etapas: sem misturar tribos, como eu disse pra Clélia. Assim posso dar atenção e curtir os diferentes amigos, sem stress. Nada pior do que mesa de bar onde as pessoas não se conhecem, não tem afinidades e tem que puxar papo...parece que o papo bom sempre está laaaaa do outro lado da tal mesa.
Essa forma me deixa também esticar o prazer desse dia.
Ano que vem pretendo fazer uma mega festa, afinal, quarenta anos tem de ser comemorado.Ai vou querer misturar muitas tribos, inclusive amigos aqui do blog. Crianças, vão ensaiando, porque todo mundo vai ter que dançar até o sol raiar
Nessa foto aqui falta o Ricardo, mas ele vai ter outras pra compensar.
Esses aniversários - como os da foto - eram feitos na casa da minha avó e juntavam toda a molecada da família. E era uma delícia.
Taí gente, há 39 anos, no dia 01 de junho, eu era um bebê.



**** publiquei esse texto quando ia fazer 39. Fiz 40 e a sonhada festa não rolou. Paciência, outra hora rola. O fato é que na segunda feira farei 41.
Claro que essa semana será a "semana clássica do balanço" ( fiz isso, não fiz aquilo, ainda falta isso, etc).
Continuo com o hábito de comemorar por etapas e vou contar depois como foi.
Ontem, passeando com a minha vira-latas Renildes, pensei como o final de semana foi bacana, como meu filho é demais e como moro em um lugar que adoro.
Depois disso, fiz uma lista - gigante - de mil coisas que quero fazer e ter.
Vamos a elas, torçam por mim.
Beijos.

23 maio 2009

Dia de rever gente





Eu sai mais cedo de um curso que faço aos sábados pra ir direto pra livraria Cultura, porque minha querida amiga Andréia T. Couto estava lançando um livro : O Lutador, um romance que vou resenhar aqui, aguardem.
Andréia é uma pessoa ímpar: fez Letras, Mestrado em Comunicação, Doutorado em Desenvolvimento Sustentável (na Engenharia Agricola, uia), morou na Alemanha, na França e há alguns anos encanou que iria escrever algo sobre Ruanda.
Beleza, pesquisou, fez contatos, mala, juntou uma grana e se aboletou em um avião rumo a África Central. Voltou no ano seguinte e preparou um livro reportagem, porque, mesmo com esse currículo bacana, decidiu fazer outra graduação, agora em Jornalismo. E fez.
Conheci Andréia Couto em 1993, quando éramos professoras na mesma faculdade. Hoje lembramos de umas histórias pitorescas de lá, qualquer hora eu conto.
O que eu adoro nela é esse jeito de se jogar no mundo, essa independência, essa vivacidade que quem a conhece sabe como é.
Hoje, além da alegria de conversar com ela e com seu marido Henrique - segundo ela, "uma delícia, um homem que não se acha mais nem com lanterna acesa" - ainda revi um monte de gente da Unicamp, pessoas que não via há séculos.
Fomos conversar em um bar : um bar anônimo, escondido, coisas de intelecutal, sacumé. Bar Bambu, anote aí.
Eu, como sou uma pobretona, gosto de lugares mais bonitos, porque pobre gosta de luxo, como ensinava o mestre Joãozinho Trinta, mas gostei desse: porções deliciosas, sandubas indescritíveis e cervejas de todas as partes. Como só tomo refri, a cerveja foi um toque bacana só pra ver mesmo.
Conto melhor depois, inclusive as explicações sobre as escolhas profissionais de cada um : Dudu, por exemplo, foi fazer Filosofia pra fazer a Revolução.
Somos filhos de outros tempos.
Vale dizer, por hora, que gostei muito. E agora, eu vou me enfiar debaixo do edredon com o romance da Andréia, e conto tudo para vocês.
Té mais.

16 maio 2009

Lugar de Mãe?









Nos primeiros meses desse blog, li em um comentário em outro blog, uma frase que me deixou bastante incomodada. O blogueiro, à guisa de defender o exercício da maternidade, dizia que as mulheres deveriam ser pagas para exercerem esse papel.
Eu publiquei esse post, que vai aqui com algumas observações, sem os muitos comentários da época e sem o nome do blogueiro, porque o que já tinha que ser dito para ele já foi e ficaria até esquisito requentar isso agora.
O caso é que esse deve ter sido um dos maiores posts que escrevi, fiquei ali balablazando sem parar e decidi republicar por conta do livro de Maria Mariana, tão (bem) criticado em vários blogs e no twitter.
Assim, por conta desse papo, republico. Então a mulher "teria" que receber salário para ser mãe...


"Bom, só o fato de ter usado o verbo "ter", já acho que o texto tem problemas.
Denota um autoritarismo retrógrado e calcado na interpretação patriarcal burguesa.
Até creio que se a frase tivesse sido escrita com "poderia" no lugar do "tinha", teria ficado até interessante. Porém a obrigatoriedade, a restrição social que essa condição imporia - sendo mãe, seria apenas...mãe - é um retorno a idealização social da Belle Epoque, equivocadíssima.
Ser remunerada para cuidar dos filhos me parece interessante. Mas ou eu li errado, ou o argumento não se sustenta.
Remunerada por quem? Pelo Estado? Pela Iniciativa privada? Pelo marido?
Pelo Estado me parece uma ótima forma de haver distorções ímpares, dado que o tal "instinto materno" é historicamente construído - e essa concepção de que é inerente a todas as mulheres é tão bem descontruído por Elizabeth Badinter - acho que iriam aparecer muitas distorções desse suposto direito .
Pela iniciativa privada? hum...já até posso ver o controle, os gráficos e as feiras para a otimização da maternidade. Não, obrigada, já estou amarrada com a iniciativa privada, eu passo.
Pelo marido ou namorado? Essa me parece a mais curiosa. Seria algo interessante de ver como se dariam as relações familiares, dado que a mãe seria uma funcionária.
Se as relações de poder já são complexas e opressoras, creio que receber salário do marido, pra cuidar do filho, seria uma forma oficial de sujeição e de um novo exercício de "luta de classes".
Algumas pessoas parecem achar que a dedicação da mulher a sua carreira e a consequente diminuição das horas dentro de casa, seria a causa do aumento de violência e falta de valores morais.
Bom.
Sem dúvida acredito que a sociedade precisa se estruturar de uma forma a contemplar as crianças que não tem uma infra estrutura adequada. Mas vários e difíceis problemas podem acontecer com a mãe fazendo bolo na cozinha, por exemplo.
Não posso deixar de pensar que se observa um passado hipotético onde as familias seriam "de outra forma". Um passado familiar fantasioso, idílico e irreal.
Como historiadora pergunto: Quando exatamente?
Phellipe Ariès escreve sobre a familia e a criança, comprovando que a concepção do que é ser criança e ou adolescente é muito, muito recente. Historiadoras como Michelle Perrot, Martha Esteves e Rachel Soihet desconstroem o mito da mulher idealizada, comprovando através de pesquisas cuidadosas que a ação feminina foi múltipla e, muitas vezes, completamente avessa ao idealizado pelo Positivismo.
Onde era tão melhor para as crianças?
Na antiquidade, onde uma criança poderia ser abandonada pra morrer?
Entre os astecas que costumavam aplicar rigorosos castigos físicos?
Na idade média onde em algumas regiões européias as crianças ficavam sem nome até quase sete anos, em função da enorme mortalidade( morria mais um...o menorzinho, aquele ali), ou talvez em grande parte da idade moderna, onde mas mães não amamentavam os bebês, nem os criavam, caso fossem ricas. Eram criados em casas separadas, ou por amas e babás e apareciam em algum momento do dia, para serem admirados como bonequinhos. Não havia essa familia celular burguesa, não existia sequer essa concepção e afirmar isso é grotescamente anacrônico.
Talvez quem se refira a esse "passado da familia" pense na tradicional familia patriarcal burguesa, que historicamente, é muito, muito nova.
Uma estrutura calcada em um modelo positivista comteando, que pensava na familia como célula mater.
Bom, estamos aqui com o resultado dessa interpretação de mundo. E o que temos é isso, violência, aquecimento global e guerras.
Tudo isso não foi gestado em uma ou duas geração, foi gestado em várias, foi gestado quando o modelo vingente era a familia positivista.
E ainda que se fale deste modelo: essa ideia de mãe acompanhando tarefa escolar e ou participando mais ativamente da vida dos filhos é recente. Mesmo dentro da idealização positivista, o cotidiano das familias - com todas as diferenças intrínsecas a cada classe - não incluia essa interlocução entre pais e filhos. Era um modelo autoritário, muitas vezes hipócrita.
A ideia de pais e filhos fazendo tarefa de casas juntos, jogando ou se entretendo juntos é uma concepção completamente inexistente até boa parte do século XX.
O universo conceitual e espacial da criança era outro.
Eu não consigo visualizar essa lendária época onde as familias eram perfeitas. Essa Atlântida é irreal. É um saudosismo à la viúva Porcina, a que foi sem nunca ter sido.
"Valores morais".
Eu tenho um certo receio dessa expressão. Fico me perguntando se podemos discutir a diferenca conceitual entre ética e moral, mas acho que aí afundamos até as orelhas na hermenêutica e não é esse o objetivo.
Então, vamos pensar em supostos valores.
Patriotismo seria um valor moral, mas um elemento tão belicoso que pode ser apontado como um dos piores males do mundo.
(Certíssimos os anarquistas ao clamarem : "minha pátria são meus sapatos".)
Que outros tipos de valores?
Ética, por exemplo?
Em que momento histórico isso foi um elemento realmente de peso? Me apontem.
Correndo o risco de ser redundante, afirmo, é ingênuo se pensar que vivemos em um momento com menos ética. Vivemos em um momento de grave crise social, sem dúvida, mas calcado em diversos outros problemas.
Esses diversos problemas levam a uma inversão de valores (o traficante passa ser herói, etc), mas essa é uma questão macro e pouco tem a ver com a mãe em casa, fazendo bolo.
Mas se uma retrospectiva histórica seria for feita, vamos ver a história sendo marcada por filhos destronando pais na base da faca, mães abandonando filhos, guerras em nome de deus e deuses, gente morta por dever pra bancos e outras distorções. Fiquemos tranquilos, a barbárie nao é novidade.
Não nego a importãncia da presença materna ou paterna. Só gostaria de atentar para o cuidado de não se deixar levar por uma idealização romantizada de um passado inexistente, cuidado pra não se colocar sobre as costas da mãe as causas de todos os males e equívocos.
E mais, discordo diametralmente da visão que restringe a mulher a ser mãe.
Ainda que ser mãe seja efetivamente o que considero o mais importante, é um dos meus papéis e jamais admitiria que alguém não me permitisse exercer todos os outros.

14 maio 2009

As meninas









O ano era 1989, o lugar era a Unicamp e as três calouras tinham entre 18 e vinte anos. Estavam sentadas em uma escada, no IFCH, próximas da secretaria. Falavam banalidades e riam, riam da mesma forma como fariam durante os próximos quatro anos,achando tudo engraçado, achando todos muito engraçados, e principalmente, achando a si mesmas muito engraçadas.
Uma delas interpelou as amigas:
- Olha ali, não é o pessoal que estava apresentando o Brasil- século XXI?
- Acho que sim, são eles mesmos...eles falaram hoje. Eu não assisti, fui só ontem.
- Aquele ali não é o Fernando Henrique Cardoso?

***** pausa: atentem para a data, ele era o então professor da USP e senador, foi antes de seus mandatos como presidente *****

- Ele mesmo, pô, bonitão, heim?
- Credo, fulana...que velho.
- ah, mas dá um caldo...
( risadas, comentários impublicáveis)
- Ele foi professor da USP ainda jovem, sabiam?
- É mesmo, professor da USP, ai, fiquei nervosa...
( mais risadas)
- Olha só, vou passar ali e dar uma bundada nele.
- ????
- Só uma bundadinha, ué.
- Que isso, fulana, tá maluca?
- Eu vou andando e ai, sem querer, eu esbarro nele. Mole, mole.
- Como assim, sem querer??
- Bom, pelo menos um dia, quando eu for mais velha, vou poder contar que dei uma esbarrada nele. Nossa, olha que chiquérrimo....
( risadas)
A menina foi andando, completamente rebolosa, chegando perto do então professor, deu uma bundada no fulano. Totalmente sem querer.
Ele virou, ficou olhando, divertido.
Ela foi embora, as outras riam ainda. E rindo foram pra aula.

*****publicado originalmente em 13/11/07

13 maio 2009

O dia que eu não estava na lista










Acho que eu já disse aqui, tenho um fraco por professor. R. foi um amálgama de professor, namorado e amigo. Atualmente é leitor eventual dessa Casa, apesar da distância.

Ele foi quem me apresentou a alguns autores que nunca tinha lido, quem me estimulou a discutir e -segundo ele -foi a motivação pra eu fazer História.
Mas isso é egocentrismo dele.
O fato é que eu adorava suas aulas, isso é verdade.

Na época do Colégio, eu, R., Dri, seu então namorado e atual marido , Pitty, e outros amigos saíamos da aula e fazíamos um pit stop no bar da frente. Estudávamos à noite e sexta feira era obrigatoriamente dia de beber e jogar conversa fora.

Olhando agora, mais velha e infinitamente mais careta, acho um absurdo grande parte das coisas. Bebíamos por lá e íamos a pé até uma parte do Cambuí, cheia de bares, apelidada carinhosamente de Setor. Isso em uma era pré diluviana em que se podia andar a pé em Campinas, durante a noite.

Na sexta feira, era dia de ver Tati e Carô no Ilustrada, o bar mais bacana da época.

Me lembro de uma noite , andando ao lado da prefeitura, quando um garoto de rua desceu correndo, disparado e apavorado, fugindo de dois jovens.

O garoto agarrou as pernas de R., talvez percebendo, de alguma forma, que poderia ser protegido por ele.

R.segurou o garoto, falou calmamente com os perseguidores - que haviam sido assaltados pelo menino - e resolveu tudo. Mas com uma firmeza, um olho no olho, que não deixava espaço pra discordar. Os caras foram embora, o garoto foi salvo. E eu só pensava : "uau..."

Acostumada aos colegas histriônicos, aquele controle todo da situação era cinematográfico pra mim.

Na época, me encontrava com meu amor eterno da época lá no Setor, ele saia da agência e ia direto pra lá. Tinha ciúmes de R., coisa que só fui entender mais tarde. Antes que eu mesma notasse, ele já tinha notado meu interesse. Se é que dá pra entender isso.
Após o fim do relacionamento com esse namorado, houve algo muito bacana com R.
Como eu estava saindo de um relacionamento que havia me ocupado toda a adolescência e eu estava muito "mudééérninha", vivemos uma coisa esquisita no melhor estilo "relacionamento aberto".Eu achava o máximo na época, mas de forma alguma repetiria a dose hoje em dia.
Já disse, sou infinitamente mais careta.
Quando eu decidi terminar com ele, continuamos muito amigos.Tínhamos um gostoso ritual, cada vez que ele vinha pra Campinas:sair pra almoçar, conversar o dia todo, se despedir sem angústia. Era bom.
Depois, ficamos muito tempo sem nos ver.

Há alguns anos, nos reencontramos em São Paulo, ele vinha pra cá e combinamos de nos ver por lá.Um final de semana pra matar a saudade.
Já fazia alguns anos que não nos víamos. Foi bom e foi ruim. Acho que eu fui esperando o professor e ele foi esperando a aluna e "eles" não foram.Confesso que foi estranho.

Em um determinado momento, desse final de semana de remember, R. começou a relembrar as mulheres que passaram por sua vida. Sei lá porque. Fulana, Beltrana...todas lindas e inteligentes, blablabla.E eu ouvindo.

Mas ele me pulou. Eu estava deitada no sofá e pensei: "porra, ele me pulou".

Não corrigi, nem brinquei com isso. Só pensei que não estava na lista.Foi tão frustrante, me senti como se ele tivesse roubado algo que era "direito" meu, direito a parte de sua história. Talvez eu devesse ter dado um pedala bem dado, exigindo meus direitos, "ô meu filho, você está na minha lista, c***!"

Um dia ainda escrevo pra ele e digo isso. Ou deixo ele ler aqui.



**** publicado originalmente em 13/04/07.

12 maio 2009

Sadismo pode?

Acabei de ver essa coisa absurda no Alex Maron.
Se algum leitor entender de Direito, me avise: isso aqui está dentro da legalidade? Não é possível fazer algo contra esse showzinho de horrores sádico?
No CQC vi uma cena desse apresentador maluco carregando a garota dentro de uma mala, mesmo após ela repetir que estava machucando.
Agora isso. Vejam vocês mesmos.


11 maio 2009

Ser ou não ser? (Sempre a mesma questão....)













Eu estava lendo o blog da Rosely Sayão agora há pouco. Vejam que interessante - e angustiante - a observação que ela faz:

"Em tempos de ideais individualistas, vivemos uma contradição: priorizamos nossa autonomia, mas queremos compartilhar nossa vida com um outro.Valorizamos o relacionamento conjugal porque, ao se tornar a base das relações íntimas entre pessoas da mesma geração, pode ser um antídoto para a solidão típica do nosso tempo. Podemos dizer que o casamento ganha importância cada vez maior na vida dos adultos.O número de separações é grande, mas o de recasamentos também. O problema é que não sabemos muito bem como conduzir essa relação tão peculiar."


Pois é, momentos de alteração de categorias, mudanças de paradigmas, tendem a dar um certo tombo em todo mundo. E aí, pintam as mais variadas questões: tenho amigos dentro de casamentos convencionais que adoram, tenho amigos dentro de casamentos tradicionais que se sentem presos e sufocados, gente que só namora e não pensa em casar, gente que nunca namora,gays festeiros, gays caseiros, mulheres que trabalham e querem ficar em casa, mulheres que ficam em casa e querem trabalhar, mulheres que trabalham e gostam, gente que sofre porque não tem filhos, gente que nunca vai ter filhos por opção, tem de tudo.
De qualquer forma, a dificuldade dos relacionamentos é algo inegável. Quem - como eu e algumas amigas - conseguiu comprar e sustentar uma casa sozinha ou com filho, acha difícil conseguir dividir isso com outra pessoa.
O mais estranho é que mesmo alguns casais que tem muito em comum - como eu tinha com meu primeiro marido - podem ser devorados pelo tédio. Devo confessar que esse divórcio foi causado, em grande parte, por imaturidade de ambos, mas a vida é assim.
Ela não é cor de rosa com desenhos, como querem algumas pessoas. (Alguém realmente tem saco pra esse tipinho de gente?) Pode até ser, mas não é pra grande parte das pessoas.
Meu segundo casamento foi um "juntamento", diferentemente do primeiro, não oficializamos nada. O que tornou mais fácil a separação, ou pelo menos, menos burocrática. Mas, ainda que eu ache meu segundo marido bonito e inteligente - e eu acho - percebo como chegar em casa e encontrar paz é uma dádiva divina. Sem ter que conviver com mudanças de humor inexplicáveis e outras chatices. Paz mesmo. Delícia.
(Deculpa, N., mas você sabe que era terrível!) O engraçado é que durante todos os anos que fomos namorados, ele não era tão instável. Ou era, mas eu podia me resguardar disso, dentro da minha própria casa.
Eu adoro minha casa e minha vida, com todas as coisas que conquistei sozinha, por minhas próprias pernas, sem pegar carona no sucesso de outros. Sou eu-comigo.
A forma de lidar com o cotidiano, com as contas, com as regras, a maneira de colocar um vaso ou a cortina, as manias, tudo isso fica cada vez mais difícil de ser compartilhado. Pode vir a ser uma boa experiência, mas ainda assim, árdua.
Não que o casamento seja ruim por definição. Não. Difícil, entendiante muitas vezes, mas não ruim. Mas ainda que tenha qualidades - e certamente as tem - fico me perguntando se ainda nessas próximas décadas saberemos como preservar a individualidade que valorizamos, com um relacionamento afetivo saudável.
Mas eu acho que é possível. Conheço poucos cuja felicidade me convence realmente, que parece algo sólido e não pra inglês ver. Porque em tempos de internet, vocês sabem, o povo faz uma graça que só por Deus....(risos)...tendo que provar sei lá o quê, pra sei lá quem, todo o tempo, sem descanso. ( Haja tempo disponível, vamos combinar..)
Mas , enfim, eu ainda creio em felicidade à dois, acredito sim, não costumo ver muita ...mas.. adoraria que um geek bonitão me ensinasse a brincar de casinha.
Aposto que seria divertido, duvido que seria perfeito, creio que seria humano.
Porque é assim que rola, não é?

09 maio 2009

Conversa de passarinho







Ontem eu entrei no Twitter. Sei que estou sendo meio lerdinha, pois me parece que o ápice se deu em novembro - salvo engano - mas eu demorei para decidir se entrava ou não.
É divertido. Para quem ainda não entrou ou não conhece, se trata de uma nova ferramenta para interagir com outros internautas: uma espécie de microblog onde são postadas mensagens de até 140 caracteres e tem como mote a seguinte pergunta:"O que você está fazendo?"
Aí você diz o que quiser.;0)
Quando você "segue" alguém, todas as postagens desse usuário vão para sua página. Por exemplo, eu estou seguindo umas quarenta pessoas, entre famosos distantes e amigos queridos, tudo que eles twittam, aparece na minha página.
Acho que ainda preciso explorar as possibilidades midiáticas dessa ferramenta, mas por hora, digo para vocês: é bem interessante e divertido. Vamos ver se o twiiter vinga, porque parece que grande parte dos ingressantes o abandona no período de três meses. Vamos ver o que rola.
A blogueira Marina W. mandou bem nesse exemplo de atuação do twitter, veja você:


" Jornal: John Lennon morreu ontem.
Blog: John Lennon acaba de morrer.
Twitter: John Lennon está dando autógrafo para um esquisitão ali na esquina
"

05 maio 2009

A Novela Cor de Rosa do Bia








Em primeiro lugar, quero dizer que gostei do livro. Começo logo explicando isso, para que ninguém ache que as críticas que faço impliquem em não gostar da leitura, porque gostei.
Dito isso, vamos aos trabalhos. Optei por não fazer ruma resenha propriamente dita, porque isso implicaria em encher de spoilers aqui. Digamos que seja um comentário sobre a leitura.
Bom, mais uma coisa, uma coisinha. Vou tomar a liberdade de chamar o livro apenas de "Uma Novela Cor de Rosa", como Bia fez quando falou na FILC. (Assim evito piadas como a da Karen, que chamou "Ô, Bia, vem logo autografar a NOVELA da Vivi..", e não, ela não falou "novela", a doida.)
Então, vamos ao texto, de uma vez por todas.
Na minha opinião livro é oscilante: alterna cenas com vigor dramático e fortes cores cinematográficas - me arrisco a dizer que você consegue ouvir o barulho da batida do carro de Tiago - sem perder o rítmo e o foco, com cenas absolutamente dispensáveis.
Cenas que ficam perdidas e mal se sustentam, aparentando uma inserção no texto à forceps. Parecem estar ali apenas para marcar território, para alimentar a aura "ousada" já iniciada em Sexo Anal. Aliás, acho Virginia Berlim tão superior a Sexo Anal que realmente não compreendo porque se fala mais dele. Enfim.
O livro começa muito bem, mas perde o ritmo e fica entrecortado com cenas que poderiam ter sido reescritas. A cena em que Monique assedia o dr. Lobo é tão bizarra que poderia ser roteiro de pornochanchada anos 70. Mas obviamente esse era o intuito do autor, que constroi outras cenas que transitam entre o cômico e o escatológico sistematicamente.
As personagens femininas são um caso à parte, em uma trajetória que vem desde Virgínia Berlim, passando por Sexo Anal e culminando em Uma novela cor de rosa, elas são sempre notoriamente amorfas. Nem diria burras, elas são "um nada" - como na descrição de Virgínia - e seguem profissões que enchem seus dias sem maiores compromissos intelectuais. Valéria diz que poderia ser manicure ou cuidar de crianças, não há nenhuma ligação mais intensa com sua profissão ou com qualquer coisa mais profunda, são mulheres assustadoramente rasas. O curioso é que são muitas: uma horda de mulheres-nada.
Por alguma razão, as mulheres dos livros do Bia são absolutamente insossas, incultas e até tolinhas. Quando alguma é mais forte ou intensa, isso se dá no âmbito da sexualidade. Mulher mais poderosa é mulher comedora e pensa com os países baixos.
Ponto a ser discutido com mais vagar, mas por hora, apontado aqui neste texto.
Diferentemente de Sexo Anal, que mostrava o lado perverso da imprensa marrom, a história de Uma Novela Cor de Rosa perpassa um jornaleco de uma cidadezinha de 100 mil habitantes, não há, portanto, cenas grotescas que apresentem o lado B do jornalismo. No máximo, apresentam a parte burocrática e cotidiana. Isso é fascinante: o texto não procura mostrar o lado fascinante, mas o lado mesquinho, pequeno, rodrigueano mesmo.
Porque você pode esperar tudo de Biajoni enquanto escritor, menos que ele seja óbvio.
Curiosamente, parte significativa dos homens casados do livro é vidrada por travecos. As meninas são visitadas geralmente nas segundas feiras, que seria o dia dos casados da cidadezinha fazerem a festa, após a frustração do final de semana com a esposa.
O jornalista escroto de Sexo Anal reaparece aqui, apaixonado por Tiago, assim, inustitadamente, surge uma história de amor gay. Isso também não é explorado, Bia não cai em pieguismo politicamente correto simplista. É um amor, ponto.
Sem dúvida, Tiago é o personagem mais interessante - ainda que não inspire empatia propriamente dita - mas, comparado aos outros, é o mais complexo e curioso. O motivo de sua morte - não vou ser tão sacana e contar, fiquem sossegados - é fabuloso: é cínico, é doente, é brilhante.
O tom do livro permite ao leitor imaginar que tem em suas mãos um possível roteiro, como eu já disse, o tom cinematográfico é interessante, bem elaborado e o melhor de tudo, profundamente original.
Imperdivel.

03 maio 2009

Fragmentos no domingo









Sexta feira estava encerrando as notas, sendo que parte dos alunos mandou trabalhos nos últimos cinco minutos do segundo tempo...mexe daqui, corrige dali, três e meia da madrugada eu estava com as notas para serem lançadas no computador. Senha errada, nada de logar na sala virtual. Ops, olho o email, pois havia solicitado novamente a senha: nada.
Exatamente 03h47min, notas prontas, eu sentada na frente do pc e nada de senha.
Só vou lançar na segunda, após falar com a secretária na faculdade.
Alouuu...se você é meu aluno e está lendo, espere um pouco, logo tudo estará no ar, ok?
******

Participo de várias listas de discussão. Por falta de tempo, praticamente não leio nenhuma, mas às vezes me dou conta do que acontece. Em uma das listas - sobre roteiro de cinema - uma integrante falou sobre o falecimento de um cineasta do sul. Apareceu um corninho metido a engraçado, fazendo piadinhas onde ninguém chamou.
Gente, tá tomando uma sova até agora.

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Escrevi um depoimento pra uma amiga ( !) no orkut. A mulher interpretou mal, sentou o sarrafo aqui na tia, deu um piti no meu orkut constrangedor, me deletou, me excluiu, mandou jogar sal na minha casa e colocou minha foto em postes, escrevendo "procura-se".
Como a palavra escrita é curiosa. Parte dela me pertence, parte dela pertence ao Outro, ao Leitor. E quem disse que consigo - ou que alguém consiga - dar conta da loucura alheia?
Eu, heim. Toma gardenal e passa amanhã, credo.
******

Sábado, parentes queridos do Rio em casa,Tio João Luiz, Cris e Bia, então programa campineiro: feira hippie - vocês sabem que adoro - com acarajé e mais compras gostosas.
Shopping Iguatemi e Livraria Cultura, compra de livro - depois conto e resenho - café e encontrar alguém pra dar oi: incrível como todo mundo vai ao Café da Cultura.
Será que é porque a livraria é uma delícia, o atendimento é ótimo e os cafés são bons?
******

Churrasco na casa de outro tio, papo.

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Tentei levar minhas primas Cris e Bia para conhecerem o Centro Cultural da CPFL, do qual sempre falo. Fechadíssimo, sem ninguém pra mostrar e sem boa vontade.
Humpf.

*****

Voltinha na Unicamp pra mostrar o campus pras meninas. Rapidinho, nem descemos.
Pra quem for, recomendo uma visita ao Arquivo Edgardg Leuenroth e na Biblioteca Central. Se for almoçar, cantina da Letras ou da Dança.


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Minha mãe está ótima, pensando em viajar para o Rio novamente, por conta de um casamento que vai rolar por lá.
Não vou deixar ir, lógico...a maluca acabou de sair do hospital, acreditam?
Está tudo ok, agradeço as mensagens e emails.


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Vou ler e depois comento. Sucumbi ao listão: comprei A Cabana. Vocês sabem como sou preconceituosa - e toooodo preconceito é BURRO - em relação a Best Sellers. Mas fiquei curiosa, o Ricardo Agreste, genial pastor da igreja que frequento, falou sobre ele. Comprei, queridinhos, tô lendo e gostando muito.



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Cinema, Wolverine - suspiro - Wolverine correndo - suspiro - bunda do Wolverine - ooooutro suspiro - Wolverine apaixonado - morri.
Mas não se anime, o filme tem mais buraco no roteiro do que queijo suíço, desde a estrutura da narrativa até as motivações pessoas, uma tristeza. Depois conto tudo.
Se você quer ver um bom filme, não vá.
Se você quer ver o Wolverine peladão, não perca.
Ah, sem perder tempo: Que Gambit é aquele, meu Deus? Fiquei nervosa.
ai, ai, esses filmes me matam.
Apaixonei.
Depois conto.
Beijos e bom domingo.

01 maio 2009

Compulsão

Só mais um pouco:


Have You Ever Seen The Rain? (tradução)
Creedence Clearwater Revival
Composição: J.C. Fogerty

Você Alguma Vez Viu A Chuva?

Alguém me falou há muito tempo
que há uma calmaria antes da tempestade.
Eu sei; vem vindo há algum tempo.

Dizem que quando terminar choverá num dia ensolarado.
Eu sei; brilhando como água.

Eu quero saber, você alguma vez viu a chuva?
Eu quero saber, você alguma vez viu a chuva
Caindo em um dia ensolarado?

Ontem e nos dias anteriores,
o sol estava frio e a chuva estava forte.
Eu sei; tem sido assim toda a minha vida.
E para sempre assim será
através do ciclo, rápido e devagar.
Eu sei; isso não vai parar, eu me pergunto.

Eu quero saber, você alguma vez viu a chuva?
Eu quero saber, você alguma vez viu a chuva
Caindo em um dia glorioso?

Yeah!

Eu quero saber, você alguma vez viu a chuva?
Eu quero saber, você alguma vez viu a chuva
Caindo em um dia ensolarado?