31 agosto 2009

O Amor nos tempos do Cólera


Em tempos de pandemia, a gente acaba mudando hábitos. Nunca vi tanta gente lavando as mãos, alguns produtos viraram arroz de festa e eu não vou ao cinema há milênios.
Não me chamem de exagerada, porque sou imunossuprimida e uma gripe dessas vai fazer esse sistema imunológico aqui pirar, socorro.
Mas eu confesso que acho engraçado a mudança de alguns hábitos, gente que se cumprimenta de longe - sorry, mas eu ainda beijo as pessoas, pelamor - e coisas assim.
Em meados do século XIX, aqui em Campinas, a febre amarela dizimou parte considerável da população, assim como aconteceu no Rio. Os Almanaques da época comentam como as pessoas deveriam ser portar nos enterros e no dia de finados, como seria mais adequado. Reprovavam o fato dos escravos irem na frente, pra limpar os túmulos, colocar flores...e ao esperarem seus senhores, fazerem uma roda de samba, cantando e dançando alegremente. Os jornalistas achavam absurdo - engraçadíssimo acharem que os escravos deveriam ficar condoídos com a morte dos senhores, aliás - descreviam a cena, provavelmente meneando a cabeça.
Como seriam as relações sociais dentro daquela pandemia? Fico pensando como as relações e hábitos podem ser pautadas nos novos medos.

26 agosto 2009

Música do dia

Já quis ser judia e morar em um kibutz, fui revolucionária ( ou coisa que o valha) e já acreditei no socialismo, mas tomei todos os tombos que a queda do muro de Berlim provocou, sou fascinada pelo Anarquismo, fui estudante, sou professora, sou blogueira, tento ser twitteira mas o tempo não deixa, fui reacionária quando criança, fui espírita, tentei ser católica, sou protestante, fui dançarina de jazz, fui ativista do teatro amador, fui militante estudantil, fui casada, fui corna, sou divorciada, fui apaixonada, fui sacana, fui bacana, fui banana a maior parte do tempo, fui frívola, fui profunda, sou leitora, fui profundamente tímida, sou exibidérrima, sou geminiana, fui mulher de cabelos curtos, sou mulher de cabelããão, fui roedora de unhas, sou usuária das unhas vermelhas, sou abstêmia, fui pseudo fumante, fui palestrante, fui mestranda e larguei, fui fã de acampar, sou um monte de coisas ainda, mas sou acima de tudo, sou principalmente a mãe do Daniel.

14 agosto 2009

Pequenos rituais cotidianos





Minha cachorrinha, Renildes, está em pólvorosa.
Como eu não estou mais trabalhando à noite, posso sair com ela para passear. Saio sempre no mesmo horário, mas ela começa a pular uma hora antes, pedindo pra sair, toda maluca.
Na maior parte das vezes em que a levava para passear ia com duas amigas e seus respectivos bichinhos. Uma tríade feminina e canina passeando, tagarelando e rindo de tudo.
Ultimamente, como tenho ido sempre e durante a semana, vou apenas com a Nildinha, minha vira-latas.
Eu tenho feito um exercício cotidiano de tentativa de desnaturalizar as milhares de coisas bacanas que acontecem rotineiramente.
Há algum tempo, fiquei embasbacada com as nuvens. Acho que só tinha reparado como são incrivelmente lindas quando era pequena. Agora são as árvores. Estou passando o mundo a limpo, mentalmente.
Tenho procurando ser uma versão feminina do Flaneur de Baudelaire, quando Benjamin o discute: quero buscar o olhar novo de quem se perde em um cidade desconhecida, percebendo as minúcias.
Adoro o lugar em que moro, adoro as praças, as ruas, minha casa, tudo. Fico celebrando isso com a minha cachorrinha e pensando como tenho sorte em poder perceber as milhares de coisas incríveis que acontem todos os minutos.
Tô meio pollyana, heim? haha.

08 agosto 2009

A Rainha do Frango Assado






Algumas vezes na vida calha da cabeça desocupada da gente se encher com filosofias baratas de botequim. Assim, quando essas coisas acontecem, quem tem blog tem a oportunidade de dividir essas elocubrações bestas com os leitores.
Estava eu aqui, pensando com meus botões: por que será algumas pessoas mentem?
Mas não falo daquela mentira educada, quando você elogia um prato que odiou ou não diz exatamente o que pensa sobre as novas sandálias de uma amiga. Não. Também não é aquela lorota que por vezes a gente conta, pra tirar um amigo ou amiga de uma enrascada que ele/ela mesmo se meteu:
- Na sexta feira? ah..claro, fulando estava aqui..ah, demorou pra chegar?...ah, mas estava comigo, desencana.
Com um remorsinho, você mente e salva a pessoa de seu legítimo castigo.
Falo de outras lorotas. Aquelas assim, contadas a sangue frio, tolas, fantasiosas, engraçadíssimas de ouvir, dada a sua mínima probabilidade. Uma miríade de mentiras que são contadas e recontadas, cada vez mais coloridas, onde os detalhes se confundem e você pensa: caraca, mudou de novo a história?
Eu me arrisco a imaginar que alguns bons anos de divã podem vir a resolver isso, porque evidentemente se trata de um nível de insegurança muito arraigado, que se utiliza da fantasia para escapar de uma realidade mediocre, solitária e cheia de chutes na bunda.
Penso que se apoiar na bengala da vida fake é um estratagema penoso, só posso crer que a auto imagem do mentiroso patológico deva ser realmente comprometida. Infelizmente, para o mentiroso, suas historietas não vão alterar a vida que passou, passa e continua sendo pouca e rala.
Enquanto isso, a gente se diverte com as histórias da carochinha.

04 agosto 2009

Meu carro é vermelho





Na sexta feira fui levar minha mãe em um show gratuito que acontece toda última sexta feira do mês, aqui em Campinas.
Esse show acontece na praça Carlos Gomes, o pessoal senta em mesas, fica em pé, canta, toma alguma coisa, aplaude e vai embora, feliz da vida.
Nessa sexta a bola da vez era Eduardo Araújo, cantor da época da Jovem Guarda, coisa que minha mãe curtiu muito.
Mas ele não ficou apenas no momento remember, cantou praticamente todo o tempo canções novas, com uma pegada country, legal até, gostei. Chegou a se arriscar em algo que poderia ser um blues, mandou ver na gaita e todo mundo gostou.
Tinha um grupo de senhoras completamente animadas, perdendo a linha, dançando, chamando de gostosão, maior barato, adorei.
Na manhã seguinte foi dia de Feira Hippie, que agora conta com uma barraca de comida mexicana que é simplesmente demais. Me mato naquelas pimentas.
Uma roda de capoeira pra ver, coisas pra admirar, comprar e uma jazz band super animdada, que arrancou ardorosos aplausos.
Dessa vez não fiz massagem, mas pra quem estiver por lá, recomendo: vá até a cadeira do Paulo, um massagista que te torce inteiro, estala aqui e ali e manda as dores pro espaço. Bom demais.
O resto do final de semana banquei a Maria limpando a casa, vi uns filmes e li.
E você, o que fez? Contaí.

03 agosto 2009

Sobre a ditadura das crianças




Andei pensando sobre crianças nesses dias. Mais precisamente, sobre o autoritarismo infantil.
Não é difícil perceber porque regimes totalitários utilizaram crianças e adolescentes a seu favor: nesse período da vida, longe da relativização da maturidade, é muito fácil ser profundamente maniqueísta. Tudo parece ser certo ou errado; branco ou preto. Crescer envolve perceber - nas palavras de uma amiga - que existe uma grande "variedade de cinzas entre o branco e o preto".
Mas os pequenos ditadores não percebem isso, e o que é pior, tem uma concepção equivocada do mundo como um grande mercado onde as pratelereiras estão repletas de opções para eles mesmos, eles se imaginam o centro, o motivo da existência da humanidade, que parece sempre dever algo aos pequenos reis.
O resultado me assusta.
Não tenho uma interpretação ingênua e romântica de um modelo antigo de família, um modelo que a história mostra que nunca existiu. Não olho o passado remoendo: oh, como tudo era tão bom...não, não penso assim.
Acredito que muitas das relações passadas eram calcadas em um modelo repressivo, onde as crianças e adolescentes não tinham voz.
No sentido de dar voz às crianças, os adultos ( pais, avós, tios, etc), se esforçaram para oferecer uma nova forma de estabelecer relações.
Mas parece que o tiro saiu pela culatra.
Acostumados a receber e receber, dotados de uma visão simplista de mundo dividido entre bem X mal, imbuídos da concepção de que o mundo feito para eles, os adolescentes, dedo em riste, exigem, julgam, insultam e magoam. Sempre atolados em uma perversa idéia de que foram ludibriados(!), que os adultos estão em débito.
Vale a pena lembrar que os criadores dos pequenos nazistas foram seus pais. Ao rechear aquelas jovens almas com ódio, passaram, tempos depois, a ser objeto desse próprio ódio.
O jovem ditador crê que nada deve a ninguém: ele é sempre aquele que recebe. O pequeno ditador, dedo em riste, não parece capaz de ver o que recebeu, porque está muito ocupado cultivando suas cobranças initerruptas e egocêntricas.
Nunca acredita que o que recebe possa ser suficiente. Ele exige, ele insulta. Por algum motivo, ele se julga nesse direito.
Temo pela sociedade que virá, com esses pequenos déspotas egoístas.
Como no vídeo abaixo, creio firmemente, que se nada for feito, se não combatermos esse egocentrismo perverso, o que nos restará será limpar o traseiro desses jovens imperadores sem autonomia.




@@@@@ Post originalmente publicado em maio de 2008, em "homenagem" a todas as crianças ranhetas, manhosas, autoritárias, interesseiras, grosseiras e os malucos que criam esses seres.