31 janeiro 2010

Sábado em Cena - O Planeta dos Macacos

Algumas cenas são memoráveis e entram de tal forma no imaginário que acabam sendo reproduzidas à exaustão. O final de Planeta dos Macacos é um exemplo disso. O protagonista, após aflitivas lutas e fugas, abandona o grupo macacos falantes/humanos quase mudos e cavalga rumo ao desconhecido, com sua nova Eva.
Sem saber onde está, acreditando estar em outro planeta onde o desenvolvimento se deu de outra forma, ele se aproxima de algo que não vemos.
A aproximação da câmera, a expressão do ator, tudo prepara o espectador para o choque final: mas isso, espero que vocês vejam na cena.
Uma das mais angustiantes que já vi, um exemplo de narrativa desesperançosa.




29 janeiro 2010

Sexta musical - Chico

"(...) esse amor adiado..esse amor que fica pra sempre...né...essa idéia do amor...do amor que existe...algo que pode ser aproveitado mais tarde, que não se desperdiça, que passa-se o tempo... milênios...e aquele amor vai ficar até debaixo dágua...vai ser usado por outras pessoas...amor que não foi utilizado..porque não foi correspondido, então ele fica ali..fica ímpar.. pairando ali...esperando que alguém apanhe e ...complete a sua função ...de amor" ( Chico Buarque, em entrevista sobre "Futuros Amantes")






***post originalmente publicado em junho de 2008.

26 janeiro 2010

Eu no Rainhas do Lar






Queridos, vocês conhecem o Rainhas do Lar? Aquele blog hiper criativo, descoladérrimo, que vive bombando na imprensa e já virou referência na rede? Sabe? Sabe?
Então, povo, hoje eu estou lá.
Depois que comecei a frequentar esse blog e outros deliciosos sobre comidinhas, me animei ainda mais: visto o avental e me transfiguro na Tia Nastácia, porque me jogo nas panelas e vibro de felicidade.
As blogueiras do Rainhas tem uma sessão onde publicam receitas executadas pelas leitoras, para minha alegria ( histeria, tô aqui dando trinta mil pulinhos) o post de hoje mostra meus espetinhos de frutas. Fiz para o natal, inspirada nas produções retrô das rainhas.
Ficou fofo, povo, e ficou bem gostoso e refrescante. E eu sai no Rainhas, yeah, baby!


24 janeiro 2010

Avatar, uma experiência sensorial


Quem estiver esperando uma boa história, não vai encontrar. O filme é um aglomerado de clichês e dá aquela impressão meio ressaca de que você já viu aquilo mil vezes.
Segundo meu filho, é um Pocahontas.
O caso é que a opção de se apresentar em 3D é genial. Visualmente o filme é de uma riqueza ímpar, os seres, as cores, tudo.
A flora de Pandora é algo que parece mais reino animal do que vegetal, o brilho e as cores me lembravam documentários sobre vida marinha em grandes profundidades. E isso em 3D, meus amigos, é simplesmente deeemais.
A cena em que o personagem central "incorpora" seu avatar pela primeira vez é incrível, ele todo atordoado com o tamanho, a cauda, e o fato de andar: o personagem é cadeirante originalmente, enquanto seu avatar pode andar, correr e fazer coisas mirabolantes em alturas inverossímeis.


As mulheres são interessantes: a guerreira, a médica, todas tem uma força e uma coerência interessantes. Achei uma pena a atriz que faz a Ana-Lucía em Lost, fazendo Ana-Lucía...acho que será condenada a esse clichê hollywoodiano que entende mulher durona como "estacionei meu caminhão ali e já volto". Gente, esses estereótipos me cansam.
A ideia da conexão com a terra, a representação de uma divindade feminina ligada a natureza, no melhor estilo pagão, ficou absolutamente linda.
Se a história peca por ser óbvia, o visual arrebenta sendo impensável. Voe para Pandora.


23 janeiro 2010

Sábado Em Cena - O Poderoso Chefão

Essa é, com certeza, uma das cenas que mais adoro na trilogia. Quando indagado
por Kay (Diane Keaton, magistral) se tinha sido ou não responsável por um assassinato, Michael Corleone ( Al Pacino, impecável) diz que vai responder apenas uma vez: olha fixamente para ela...e mente.
Kay, acreditando na mentira sai da sala para preparar uma bebida, nesse ponto Michael fica "emoldurado" pela porta e recebe outros integrantes mafiosos.
Do lado de fora, Kay observa enquanto ele é chamado - pela primeira vez - de "Dom Corleone", ocupando, assim, oficialmente, o lugar do pai, como Godfather.
A exlusão dela desse mundo, a gradativa consciência que ela toma do papel que ele ocupará é ratificado pelo fechamento da porta.
Toda essa cena fantástica, ao som da melhor e mais significativa música possível.



21 janeiro 2010

Langsdorff, o fantasma







Se não levo um livro, só posso mesmo partir para as revistas da sala de espera, quando vou ao médico. Li uma, folheei outra,quando achei uma Metrópole - uma revista dominical que vem anexada ao Correio Popular - fui imediatamente ler o texto de Eustáquio Gomes, que é, tradicionalmente, a primeira coisa que leio nessa revista.
O texto, ótimo como sempre, tinha o seguinte título :"A Maldição de Langsdorff".
Eustáquio falava sobre uma pesquisa organizada pela Unicamp sobre a Expedição Langsdorff, organizada por esse genial cientista alemão que veio para o Brasil no século XIX, representando a Rússia em uma ambiciosa viagem de pesquisa.
Pois é, junto com ele vieram Taunay, Rugendas, Hercule Florence, entre outros.
A viagem foi incrível, cortando o Brasil, passando por minha região, estudando plantas, animais, pessoas, hábitos. Anotando, desenhando, estudando cada detalhe. O lance é que houve afogamentos, mortes, loucura. Além de um outro integrante que enlouqueceu durante a viagem, Lansdorff - cientista, poliglota, intelectual - perdeu a razão com cinquenta e poucos anos, no meio do Brasil, no meio da pesquisa. Nunca mais recuperaria a sanidade.
Eustáquio comenta que o primeiro organizador da pesquisa, posteriormente comandada por Danúsio no Centro de Memória, faleceu.
Por que estou contando isso para vocês?
Rapaz, porque eu também participei da pesquisa. Eu trabalhava com microfilmes de manuscritos dele, em português ( ele havia feito anotações me português, alemão, russo e francês). Fui auxiliar de pesquisa do prof.Plínio, que faleceu ainda durante o projeto. Apavorada como sou, lia a brincadeira de Eustáquio e já pensava "pronto, ferrou tudo, Langsdorff miserável.."
Mas tudo vai dar certo, pé de pato mangalô, certo?
Pô, Lansdorff, não me assombre....

****post publicado originalmente em maio de 2008.

17 janeiro 2010

Sábado em Cena

Continuando a fase categorizada do blog, começa hoje o "Sábado em Cena" : todo sábado pesco uma cena que me marcou, uma cena que ficou emblemática pra mim.
Star Wars merece vários posts, por sua riqueza simbólica.
Qualquer dia a gente se atraca no Joseph Campbell e discute todas as nuances de Star Wars, mas hoje, hoje é dia de cena.
E a cena edipiana que escolhi, você certamente já viu. Mas vale a pena rever. E muita atenção para a música de fundo, que colabora para a construção de Darth Vader.






15 janeiro 2010

Sexta musical

Não sei se vai ficar fixo, mas é mais ou menos o que pretendo: a cada sexta, uma música que me joga na parede.
Acho complicado "categorizar" o blog, porque amarra um pouco o autor: dia de escrever sobre patos ou dia de escrever sobre marrecos.
Mas, vamos fazer essa experiência.
Nessa sexta musical......uma das vozes mais potentes que já ouvi e uma das músicas mais "alto astral, ninguém me derruba" do mundo.
Com vocês, Nina.


11 janeiro 2010

Stardust no papel e na tela












Nessa semana,resolvi reler Stardust,uma obra que fica em um meio termo entre a literatura e os quadrinhos,se utilizando das imagens de maneira nevrálgica no texto,mas não as usando como parte integrante dele.
Para quem não leu,recomendo.Aliás,qualquer coisa criada por Neil Gaiman - aquele gênio - pode ser lida com uma certeza:vai ser delicioso.
Esse inglês apaixondo por gatos,mitologia e literatura,criou algumas das melhores coisas que já li em termos de História em Quadrinhos,como Sandman,por exemplo.
Mas sobre Sandman,falo depois.
Stardust é uma obra delirante,mesclando o fantástico,referências mitológicas (marca do autor) e uma criatividade arrebatadora.
Eu vi a adaptação no cinema,com Daniel.Meu filho achou que o filme não captou na atmosfera mágica da história e eu concordo.
Quando eu vi,achei estranho ver aqueles fantasmas com um humorzinho que mais parecia Gasparzinho do que algo do Gaiman, mas como fazia muito tempo que eu havia lido,não conseguia me lembrar desses personagens.Ainda assim,achei que fugiam muito ao estilo peculiar do autor.
Quando reli,percebi que minhas impressões estavam certas: o capitão do navio que flutua sobre a nuvens e caça raios NÃO se veste de mulher e dança ( humor de quinta...),a cena da morte da feiticeira é completamente diferente da luta (longa,entendiante,repetitiva) dentro do palácio.
O fim é completamente diferente,totalmente água com açúcar,um crime,comparado ao fim criado pelo autor.
Eu sei que várias pessoas acreditam que a adaptação deve ser livre.Mas eu implico com isso.Uma coisa é cortar cenas,adaptar,dar uma oura forma,adequar para ficar palatável em outra linguagem.
Outra é distorcer personagem,criar outras cenas....
Vamos combinar,o roteirista pensou mesmo que ele conseguiria criar cenas MELHORES do que Neil Gaiman? Neil Gaiman,gente...Se é pra criar algo diferente,crie sozinho,não destrua uma história bacana.Isso realmente me irrita.
Então o filme é isso: cenas que não existem,fogem ao estilo do autor,sem atmosfera mágica -característica dele - com alterações água com muito açúcar.
Leia Stardust,mas não a veja.Mesmo porque,o que você vai ver,não será Stardust.

***Publicado anteriormente em fevereiro de 2008.

08 janeiro 2010

As boas notícias de ano novo

Eu sei que parece história de pescador, eu sei!
Mas eu estava aqui, ouvindo e me acabando de cantar ESSA MÚSICA quando meu celular tocou e ouvi a melhor notícia dos últimos meses.
É ou não é uma situação digna de Ally McBeal?

Yeah!


A pianista e o violeiro I



Minha avó era uma dondoquinha carioca que se orgulhava de seu piano. Meu avô era um filho de fazendeiro paulista que trabalhava como tropeiro da fazenda. Ambos tinham grana, um certo status e uma vida bastante confortável.


Minha avó, Gogóia, se mudou para uma fazenda no interior de São Paulo, onde o pai foi se tratar de uma série de problemas de saúde. Lá conheceu um jovem chamado Gabriel, que era tão lindo com seus irresistíveis olhos azuis, que já tinha o apelido que carregaria até ser avô: Belo.


Belo e Gogóia namoraram e casaram: ela com 19 anos , recém orfã , ele com pouco mais de 20, tornado pobre por um negócio equivocado do pai. Perderam a fazenda e tiveram uma vida de privações. Diferentemente da juventude, passaram uma vida apertada e difícil. E tendo oito filhos, tudo era ainda mais trabalhoso. Mas devo dizer que não me lembro de tê-los visto reclamando disso.


Minha avó nunca mais teve seu piano, mas isso é tema pra outra história.


Meu avô continuou tocando seu violão, como eu já contei aqui, algumas músicas, como Índia,são impossíveis de ouvir: eu simplesmente choro mesmo, mesmo que eu tente dar uma de durona, é fogo, não dá. Abro a boca.Me comove demais.
Ele tinha uma bela voz de seresteiro e algumas das noites mais lindas que tive na infância foram no sítio do meu padrinho: os tios , tias, primos, sentados nas cadeiras e redes, sob a luz do lampião, ouvindo meu avô cantando e tocando violão. Dá um nó na garganta só de lembrar.

Tenho sonhos nonsense com eles. Conversamos muito nesses sonhos.


- vó, agora que você morreu , vou te ver menos, né?


- ah, vai ser assim.....rindo


E falamos normalmente: ela do lado de lá e eu do lado de cá.


Mas a saudade ainda é insuportável.


NOITE CHEIA DE ESTRELAS

(cândido das Neves)


Noite alta, céu risonho,a quietude é quase um sonho...

O luar cai sobre a mata,qual uma chuva de pratade raríssimo esplendor.

Só tu dormes, não escutas o teu cantorrevelando a lua airosaa história dolorosa deste amor.


Lua, manda a tua luz prateadadespertar a minha amada!

Quero matar os meus desejos,sufocá-la com meus beijos...

Canto, e a mulher que eu amo tantonão me escuta, está dormindo.

Canto e, por fim,nem a lua tem pena de mim,pois, ao ver que quem te chama sou eu,entre a neblina se escondeu.


Lá no alto a lua esquivaestá no céu tão pensativa...

As estrelas tão serenas,qual dilúvio de falenas,andam tontas ao luar...

Todo o astral

ficou silente para escutar o teu nome entre as as dolorosas queixas ao luar!




Essa foi uma das poucas reproduções que encontrei no youtube. Não é um cantor famoso, é um anõnimo que cantou e postou a música que gosto tanto e que tanto me lembra o vovô.
Duvido que um Botelho escute isso sem lutar contra o choro.





****publicado originalmente em 2007.