29 julho 2011

Histórias de pessoas




















Esses dias em que passo muitas horas entre consultas e exames, são dias em que leio livros e revistas, faço palavras cruzadas, vejo tv sem som, morro de tédio e converso com as pessoas que, como eu, contam carneirinhos durante o dia, pra ver se o tempo de espera se torna menos chato.
Encontrei várias pessoas:


Uma mulher de uns sessenta anos me conta:

" Ele estava na diálise quando me ligaram, disseram que iam segurar o rim até as duas da madrugada, se a gente não chegasse, passavam pra outro. Fiz as malas e reservei o vôo pela internet, pras oito, dava com folga. Chegamos e não havia vaga! Briguei, expliquei, me transferiram pra outra cia...com voo às onze. Atrasou. Eu rezei, quase morri. Chegamos aqui quase uma da manhã...viemos de táxi, gastei 200 reais! Mas deu tempo - sorri - ele está ótimo, a gente vem a cada três meses, faz exame, consulta, volta para o Rio no mesmo dia. A gente mora em Duque de Caxias, conhece?"


Hoje conversei com uma garota de 19 anos:


"Transplantei com nove, deu tudo certo até hoje, mas hoje acordei enjoada, vomitei, ai vim pra cá. Eu saio e tudo, só não bebo,né? Já acostumei, não pode, não pode. Me enrolei um pouco na escola por causa do tratamento, mas estou fazendo supletivo. Quero fazer moda."



A senhora de olhar cansado da semana passada:


"Meu filho tem 39 anos, o rim novo ele perdeu faz um ano. A diabetes deixou ele cego, ele é aquele ali, olha, de sonda. E não consegue se aposentar, dizem que ele está bem pra trabalhar. A gente vive com minha aposentadoria."




A senhora de hoje:


" Transplantei há 14 anos, mas entrei em depressão e parei de tomar os remédios. Perdi o rim novo, vou me internar pra passar cateter e fazer diálise. (suspira) Mas eu não quero não, pra mim já tá bom, já vi meu filho crescer, não quero mais nada."




A moça com o celular:


"Sou transplantada há nove, trabalho normalmente e tô até grávida - sorri - mudei os remédios porque queria um neném, tô ótima."



O casal da semana passada:


"Eu também transplantei, faz dois anos. Ela faz dois meses, tá ótima, né, Bem? Eu estranhei um pouco não comer doces, comia muito, mas acostumei. Foi diabetes pra ela e pra mim."



A jovem mamãe de hoje:


"Ele tem quatro anos, transplantou com dois. Rim cadáver, criança também. Ele vai na creche, normal. Fica meio bravo com os enfermeiros - ri - mas obedece."

27 julho 2011

Diário de bordo : filmes assistidos.

Filmes assistidos, fase I:



W. o filme de Olive Stone mostra Bush em dois momentos, enquanto presidente, lidando com a questão do controle sobre o petróleo na região do Oriente Médio, assumidas claramente nas reuniões pré invasão do Iraque e todas as trapalhadas de sua equipe, e em todo o processo de sucessivos fracassos e fanatismo religioso que precede isso.
Um idiota em todos os níveis. Desprezado por papai Bush e em terna crise de aceitação. Vale assistir.

Lua de Papel: setentão ainda em forma, o filme é encantador ao mostrar Ryan O'neal fazendo um par impagável com sua filha Tatum, então uma garotinha de uns oito ou nove anos.
A menina e ele se locomovem pelos EUA dando golpes simples e/ou mais elaborados, praticamente já criminosamente dei um spoiler total no filme, portanto, nada mais falarei.
Veja.



É proibido Fumar ( da lista do Bia)
Delicioso. O roteiro é demais, Glória Pires é uma mulher de classe média paulistana que vive na casa da família, ao contrário das irmãs, que optaram por viver suas próprias vidas.
Baby, apelido da personagem, vive de aulas de violão para uma fauna interessante de alunos, até se interessar por seu vizinho, Max ( Paulo Miklos) e começar a ter um relacionamento doido com ele. O que chama a atenção é o fato da diretora trabalhar com cenas que facilmente cairiam em interpretações fáceis, de humor barato, típicas de comédias românticas e NÃO cair nisso.
O papo furadíssimo dos dois me lembrava muito conversas que já ouvi. Hilário.
O medo patológico da personagem em enfrentar os problemas ( assumir que está sendo traída e romper com max) ou se libertar do passado ( ela luta todo o filme pelo sofá de uma tia morta, quando o consegue, fica triste, está forrado e ela o deseja exaaaaaaatamente como era, de veludo vermelho. Seu cotidiano está soldado no passado)
Ainda o fato das inúmeras mentiras que são conhecidas e ignoradas pelo casal, apresentam uma relação pirada, quase doentia e muito, muito real.


Aos poucos, entre um papo hospitalar e outro...rs...falo dos filmes, ok?
beijos, queridinhos.






25 julho 2011

Nova cirurgia, nova internação ou Quero Minha Vida de Volta

Eu estava rascunhando umas pequenas resenhas sobre filmes que assisti, mas ploft: em enfiaram em outra internação. Quando esse blog vai falar de outra coisa? Não sei, gente. Na hora que eu recuperar minha vida, me cotidiano que adoro.
Vocês se lembram que eu reclamava de uma dor muito intensa? Então, em uma das muitas idas ao hospital para exames, fiz uma punção ( coisa básica, uma agulhadona na barriga para retirar líquido e examinar, claro que eu estava mega caaaaalma. Mas justiça seja feia, não doeu)e decidiram me internar para nova cirurgia, pois eu estava com uma fístula urinária.
Como eu já sabia dos procedimentos, diferentemente da primeira vez, fui chorando par a sala de cirurgia, fiquei mais tempo acordada, vi os aparelhos, vi a preparação, essas coisas todas. Depois apaguei.
Acordei com uma dor macabra, gritei e me descabelei quando tentaram me mudar, a dor era atroz, mas parecia que eu deveria pedir desculpas por isso. Durante a internação, fiquei três dias sem conseguir me mover. Os médicos são competentes, claros, entretanto, sentir dor é tratado praticamente como uma falha de caráter.
Como eu já comentei, a equipe é muito competente: você tosse e aparece uma fisioterapeuta pra fazer exercícios e manobras, você pode pedir coisas específicas para a nutricionista, os médicos passam várias vezes ao dia, os enfermeiros ajudam no que for necessário, MAS...toda e qualquer complicação emocional é vista como frescura.
Eu estava no quarto com uma mulher em um quadro muito, muito sério, com rejeição, prede rim transplantado e lúpus em altíssima atividade. Via coisas terríveis e ouvia coisas terríveis todos os dias. E não houve nenhum profissional da saúde mental por lá.
Quando eu disse para a enfermeira que ela parecia estar deprimida, a fulana respondeu

" ah, tem que falar pra ela não fica deprimida, né? não pode."


Ahã, então, tá.

10 julho 2011

Didi, o meu heroi

Já chamei meu irmão de vários apelidos durante a vida. Ricardo é o meu caçula, que carreguei no colo, ensinei a ler e sempre tive uma ligação incrível. Daniel nasceu no mesmo dia que Ricardo, que é seu padrinho, ou melhor, seu "Didi", como eu o chamo agora.
Quando eu fui no nefrologista e soube que o rim estava praticamente em falência, não pude contar para meus pais. Eles estavam indo para Buenos Aires e não adiantaria nada estragar a viagem. Passei uns dois dias no sofá, em uma deprê total.
Liguei para meu irmão e ele foi para minha casa imediatamente: passamos o final de semana fazendo humor negro e rindo.
Ele se comprometeu em contar para minha familia, sempre foi o suporte. Meus sangue é O+, um tipo bobo que pode doar para todos, mas so recebe de outro O+.
Feitos os testes, fiou decidido que ele me doaria seu rim. Gente, ele me deu um orgão, um pedaço dele mesmo, sme o qual eu entraria em diálse, ficaria na fila e , bom, vocês sabem.
Então minhas amigas disseram que choraram quando souberam que a gente estava de mãos dadas nas macas, um pouco antes da cirurgia. Se isso não é prova de amor, não digo nada.











09 julho 2011

Rim novo, vida nova


Minha internação foi no dia 27: chegamos em comitiva no hospital e eu e Ricardo estávamos calmos.
O pastor da minha igreja enviou um seminarista para fazer uma oração e isso fez toda a diferença.
A despeito disso, o protocolo do transplante indica diazepan à noite e antes da cirurgia. Ficamos de mãos dadas na sala pré cirúrgica, até que ele foi levado. Eu fui logo em seguida.
Me deslocaram da maca para a mesa e escutei:"Você vai se sentir tonta. Agora você vai sentir um sono mais pesado" Ploft. Nâo ouvi mais nada.
Acordei horas depois, na sala de recupseração. Co sonda, soro, uma máquina que media pressão e outra que media a oxigenação. Fiquei horas em um limbo de semiconsciência por conta da anestesia, acordava e dormia seguidamente. Não era permitido comer u beber nada.
Enfim, esse dia passou. Fiquei oito dias hospitalizada e acho que emocionalmente posso dizer que fiquei meses. As horas não passavam, senti MUITA dor e tomei tanto imunossupresor na veia que tive calor e frio, tremores, calafrios. Mas o pior de tudo eu não saberia traduzir, era uma agonia, uma angústia ão intensa que pensei que fosse surtar.z
Furada como um queijo, agoniada, implorei aos médicos que deixassem minha mãe me acompanhar, porque , gente, quando o bicho pega, não há rivotril que supere carinho de mãe.
Minha mãe dormiu m uma poltrona durante cinco dias, me ajudando em todos os movimentos, fazendo cafuné e não me deixando pirar de vez.
Finalmente, recebi alta. Estou hospedada na casa do Ricardo e já me sinto melhor. Os últimos exames mostraram que o rim está funcionando, tenho que tomar muitos remédios e ter um cuidado insano com a higiene, mas tudo bem.
Vou contanto aos poucos, porque tem muita coisa pra dizer e muita gente pra apresentar pra vocês.
O máximo é isso: poer levar uma vida praticamente normal. Como disse a Dica Moraes depois do seu transplante de medula;" A vida é muito boa quando a gente não morre".